Nesse natal que passou fui coadjuvante de um acontecimento que jamais esperava que pudesse acompanhar da forma como consegui fazê-lo. Minha filha, que mora no Rio de Janeiro, estava para vir a Porto Alegre no dia 19 para passar o natal conosco. Conforme seus planos, trabalharia até as 14h da quinta-feira, dia 17, folgaria do tabalho a partir da sexta-feira e viria para Porto Alegre no sábado, dia 19 em voo ao final da tarde, chegando aqui à noite. Já ao final de nossa conversa via chat, perto da meia-noite do dia 16, ela recebeu um telefonema de Nova Iorque, EUA, solicitando que trabalhasse como repórter free-lancer para ajudar a equipe da CNN a cobrir o retorno do menino Sean Goldman aos Estados Unidos. Naquele dia, seu pai, David Goldman havia ganho uma batalha que se desenrolava há quatro anos contra a família brasileira que detinha sua guarda, para levar seu filho de volta para os Estados Unidos.
Resumindo a história toda. David Goldman era casado com uma brasileira nos Estados Unidos, com quem tivera um filho, Sean. Após felizes quatro anos de casados eles se separaram e num belo dia ela pediu para visitar seus pais no Brasil e levar o menino Sean com ela. David permitiu. Porém, a mãe enamorou-se e casou (?) com um rapaz de uma abastada familia carioca, com quem teve uma filha. Após o nascimento dessa filha, ela teve uma hemorragia e veio a falecer. A familia do pai brasileiro pediu,e levou, a guarda do menino. David, então, entrou com uma ação (ou várias) para trazer o menino de volta e só conseguiu os direitos de exercer a paternidade presente quando a justiça brasileira lhe favoreceu naquela quinta-feira.
Porém, ao chegar ao Brasil, quase que imediatamente, a justiça brasileira lhe negou novamente o direito de levar o menino, uma vez que a familia brasileira recorreu, e em tempo recorde para essas épocas conseguiu anular a decisão anterior.
A partir daí, até o dia 24 de dezembro, o que se viu foi uma batalha jurídica correndo contra o tempo para poder terminar antes do Natal, senão, quem sabe, terminaria somente após o carnaval. Os acontecimentos tomaram forma de resgate de um cidadão americano, como se vê em filmes de Hollywood. Zapeei a internet perpassando por várias empresas de notícias norte-americanas e o que para nós não passou de mais um evento midiático, para eles foi o acontecimento do ano. Todas as emissoras focavam a atenção no resgate do menino e se via que a pressão contra justiça brasileira era enorme. Finalmente, ao apagar das luzes da antevéspera de Natal, o nosso STF julgou a sentença a favor do pai americano com caráter irrecorrível para a família brasileira. Foi uma choradeira só.
Por aquelas coincidências que nunca conseguimoes explicar, no mesmo dia o congresso americano, que já estava de recesso de Natal, voltou a se reunir em caráter de emergência para votar uma lei que favoreceria economicamente 130 países, quanto à retração de impostos de importação. E nesse dia o Brasil foi incluído na lista dos isentos. A família brasileira do menino Sean interpretou como se o menino estivesse sendo trocado como mercadoria para favorecimentos econômicos, sendo isso verbalmente exposto pela avó para toda a imprensa internacional.
Não quero entrar no mérito se o menino devria ficar ou não. Mas, como disse antes, o evento acabou se transformando num resgate de cidadão americano e muitos jornais de lá tratavam a matéria como sendo o menino "kidnapped" nas manchetes. Quem o resgatou foi o próprio pai, não sendo necessária a intervenção de Johnny Rambo ou do Bradock quebrando, explodindo e destruindo metade do Brasil para levar o menino embora. Na realidade, se teve alguma coisa quebrada, foram as pernas dos avós e do padrasto brasileiros pelo nosso bravo STF.